A Ordem dos Nautas da Arca Real

Texto do Irmão Rodrigo Medina Zagni

(Venerável Comandante na gestão 2023-2024)

 

 

Em termos documentais e fontes históricas de naturezas diversas, pouco se sabe acerca das origens do grau de Nauta da Arca Real e da estrutura que, por tradição, a ele está ligada, a Antiga e Honrosa Fraternidade de Nautas da Arca Real.

Sua institucionalização na Ordem Maçônica se deu apenas em 1772 e os Nautas persistiram autonomamente até os 10 de junho de 1884, quando, para que o grau pudesse seguir operante, sua estrutura teve que ser incorporada, pela bagatela de 25 libras esterlinas, à Grande Loja de Mestres Maçons da Marca.

Essa é a razão pela qual, ainda hoje, as Lojas de Nautas estão atreladas às Lojas de Mestres Maçons da Marca, bem como segue vigorando a exigência do grau da Marca como pré-requisito àqueles que desejam avançar ao grau de Nauta.

Ambos os graus se submetem, por conta disso, à mesma autoridade: o Grão-Mestre da Marca (que é, com isso, o Grão-Mestre dos Nautas), e toda a sua conseguinte estrutura administrativa.

No entanto, esses são os únicos elos existentes entre Mestres da Marca e Nautas, dadas as graves dissemelhanças entre ambos, em termos tanto de forma quanto de conteúdo.

Para começar, ainda que as origens do grau de Nautas sejam incertas, podemos supor, diante de seus repertórios, que tenham precedido em pelo menos dois séculos a criação da primeira autoridade obedencial maçônica (a Grande Loja de Londres e Westminster, em 1721, de acordo com pesquisas históricas recentes), uma vez referir-se à tradição noaquita e não hiramita, tendo todo o seu arcabouço atrelado aos labores em madeira (e não de alvenaria), tomando como referência alegórica a construção da Arca de Noé e as narrativas do Grande Dilúvio, enquanto, na tradição hiramita, a referência é a construção do Templo de Salomão.

Assim sendo, inexistem em toda a sua textualidade e liturgia os personagens maçônicos convencionais.

É o que explica o ambiente náutico, dos procedimentos rituais à ambientação do templo, bem como a mensagem da preservação da humanidade na nau que sobreviveu ao dilúvio, a aliança com o Criador simbolizada pelo arco-íris, e o recomeço após as águas baixarem, por sua vez representado pela pomba que, ao trazer a Noé um ramo de oliveira, informava ter encontrado terra firme.

Como dissemos, as origens deste grau são incertas, mas já é possível rastrear a tradição noaquita e as narrativas diluvianas desde os primeiros catecismos maçônicos, nos rituais primitivos de meados do século XVII. Também o grau de Cavaleiro Prussiano, chamado de Noaquita e criado por volta de 1750, aponta para a existência anterior desses mesmos conteúdos.

Mas o grau propriamente de Nauta só está documentado a partir de 1790, quando o seu primeiro registro dá conta de uma reunião que teria ocorrido em Bath. A partir deste marco, temos a aparição crescente de registros do grau sendo concedido e praticado em diversas outras realidades.

Com a criação da Grande Loja de Mestres Maçons da Marca, em 1856, estreitou-se a prática de ambos os graus, ainda que seus conteúdos fossem gravissimamente distintos. Essa é a hipótese mais plausível para o atrelamento do grau de Nautas à estrutura administrativa da Marca.

Corrobora a hipótese o anúncio feito em 1870 pelo Grão-Mestrado da Grande Loja de Mestres Maçons da Marca, na pessoa de Canon Portal, que afirmava a prática do grau de Nautas em Lojas da Marca, pelo menos, desde 1790 e que, diante disso, a Marca "protegeria" o grau de Nautas.

Isso vigorou, primeiramente, na Inglaterra e País de Gales, bem como em suas possessões ultramarinas. Hoje, esse atrelamento é praticado em todo o mundo, o que explica também o fato de as reuniões de Nautas ocorrerem, comumente, no mesmo dia e local das sessões das Lojas de Mestres da Marca.